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A jaboticabeira é tipicamente brasileira, pertencendo ao grupo Angiosperma e à família Myrtaceae. A Mata Atlântica guarda em seus ecossistemas associados 85% do total das espécies descritas. Em estudos etnobotânicos na Mata Atlântica da Bahia, as espécies de mirtáceas estão entre as quatro famílias mais importantes no valor de uso tradicional. Dentre as espécies frutíferas dessa família, destaca-se a jabuticabeira Plinia peruviana (Poir) Govaerts. As plantas produzem muitos metabólitos secundários com propriedades bioativas, e compostos fenólicos são um exemplo destas moléculas. São predominantemente encontrados em frutas, raízes, folhas e sementes e participam de importantes vias metabólicas, com funções fisiológicas e morfológicas importantes, como: sistema de defesa, estrutura, reprodução e propriedades sensoriais (cor, odor, gosto, etc.).
A jabuticaba (Plinia peruviana (Poir) Govaerts) é um dos frutos nativos brasileiros mais populares, sendo consumidos na forma de suco, vinho, licor e geleia. A casca da jabuticaba é normalmente descartada e representa 50% de todo o fruto, produzindo uma expressiva quantidade de resíduo pela indústria alimentícia, o qual pode eventualmente ser interessante como fonte de compostos à indústria cosmética. O interesse em avaliar o potencial medicinal de plantas cresceu nas últimas décadas, identificando de forma crescente muitas moléculas benéficas à saúde humana, a exemplo da vasta gama de compostos fenólicos. As cascas do fruto da jabuticaba são ricas em antocianinas, uma classe de compostos fenólicos que confere a coloração roxa a uma variedade de frutos e folha, além de taninos e compostos fenólicos ácidos. Antocianinas apresentam efeito biológicos importantes, e.g., antitumoral, anti-inflamatório, antimicrobiano e antidiabético, bem como possuem atividade na prevenção de doenças cardiovasculares e oculares. Em particular, a cianidina 3-O-glucosídeo (C3G) e delfinidina 3-O-glucosídeo (D3G) atuam como receptores de elétrons no complexo da cadeia respiratória mitocondrial, aumentando à síntese de ATP em corações de ratos levados a condição de isquemia. Estudos revelaram que os extratos da casca de jabuticaba possuem propriedades medicinais com alto potencial antioxidante, antimutagênico e anti-inflamatório. O consumo da casca de jabuticaba pode também aumentar o nível de colesterol HDL em ratos Sprague-Dawley e a resistência à insulina em camundongos. Além disso, antocianinas apresentam efeito protetor às células cutâneas contra danos induzidos por radiação UV, aumentando o nível cutâneo de colágeno, elastina e ácido hialurônico. Além disto, ácidos fenólicos e antocianinas são considerados eficazes na promoção da cicatrização de feridas, seja pela diminuição do tempo de oclusão de lesões cutâneas ou pela atenuação da inflamação. Efeitos anti-inflamatórios observados estão relacionados principalmente à inibição do fator de transcrição NFκB, importante regulador do processo inflamatório. Assim, benefícios à saúde humana e longevidade celular têm sido atribuídos à presença de antocianinas e ácidos fenólicos na casca da jabuticaba. Deste modo, a presença de metabólitos secundários indica funcionalidades adicionais à casca de jabuticaba e a seus produtos derivados, subsidiando o desenvolvimento de novas aplicações junto às indústrias alimentícia, farmacêutica e cosmética.
Apesar do grande potencial de aplicação de produtos derivados do fruto da jabuticaba, poucos trabalhos foram publicados até o momento sobre a avaliação de segurança de extratos da casca da jabuticaba à saúde humana. Neste contexto, meu trabalho durante meu doutorado em biotecnologia teve como foco avaliar a segurança do extrato hidroalcoólico seco por ultra pressão da casca de jabuticaba, através da utilização de metodologias in vitro já publicados pela OECD, como também identificar os 4 compostos principais presentes no extrato, utilizando técnicas como UHPLC, MALDI-TOF MS e 1H-RMN.
Os resultados deste trabalho podem ser encontrados aqui no site, nesse Artigo.